Por: Bárbaro Xavier
Outro dia assistindo uma chamada do Canal Brasil, para o filme Pacarrete, dirigido pelo brilhante Allan Deberton, a gente se depara mais uma vez com a perfeição de Marcélia Cartaxo.
Pacarrete, esse poderia ser um nome de qualquer mulher de Russas, de ruas, de casa e da casa. Mas toda personagem tem a formosura que a atriz, autora, empresta e dá para que ela viva, se sobressaia de dentro de almas, se manifeste em corpos, brilhe em telas e palcos.
Cartaxo, nome ainda mais esquisito, brilhante sobrenome, de Mar, que dá ondas, essas que cobrem o Nordeste de um Brasil sem pau Brasil. A cara truncada, meio que querendo descobrir mundos, com uma marrenteza doce, ingênua, nos faz parar em frente e olhar a hora da estrela brilhar.
Humildemente e grandiosamente, a gente se depara com o que não estamos acostumados a encontrar em cada esquina, que antes era cinema, hoje é pobre, virou palavras ecoadas ao vento, sem destinatário, apenas a olhar contas bancárias dando sopa.
Que pena, que templos como os cinemas ainda não existam como antes, nem show, nem business. Eu queria ver mesmo mais a Cartaxo em cena, fazendo de conta que ela é aquilo, ou pouco disso, e muito mais que isso e daquilo.
Tem coisa que fascina, tem coisa que a gente vê o jogo, e fala que tem cena nisso. O jogo é limpo, é meigo, é fino, e quase uma aquarela de nuances suaves, ricas em tantos outros pontos. Eu só digo que nada mais é: arte, linda e plena.
Cartaxo existe, celebremos. Cartaxo deveria existir mais. Temos o cinema, o teatro, o que mais falta para arte dela? Perguntar não faz mal. Mas uma possível resposta, para o Nordeste ser Brasil, ele precisa mais falar a mesma língua, que num deixa ninguém fora da margem do auge, do destaque. Que não sublinhe o nosso nome, não invalide nossa visibilidade como artistas. Que gostem de verdade dos nossos corpos, não tapem os olhos, as bocas e muito menos os ouvidos para os nossos gritos.
Se for para gritar, não vamos gritar as margens do Ipiranga, mas do Rio São Francisco. Se for pra ser um conhaque, beberemos uma pinga para comemorar as falácias de que somos todos “hermanos”.
Quando as personagens choram, pode crer que o artista também chora na coxia, pelo o que deveria ser e acaba sendo o “fondo”.
Não quero acabar “fondo” nada. Só quero que Pacarrete possa dançar o seu “balê”, e a estrela seja ainda mais parte de uma constelação global, dessas que brilha por lugares que nem se alcança sua grandiosa luz.
Não devemos desejar demais, querer que a calça curta abrace o chão, mas eu digo ainda que se for preciso, venderemos os retalhos todos para fazer uma grande manta, esmaltada para que nossos artistas sejam ainda mais fortes em sua arte.
Ressaltamos! Se eu fosse pensador, pensaria em dar nome a algo que ultrapassa a arte e chega ao simples de ser: Marcélia Cartaxo.
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