Por Bárbaro Xavier
Como é interessante é assistir uma peça e sair de lá achando que uma música que fala de amor não é mais uma música de amor.
Bom... eu explico. A música não é lá uma música que fala de amor, se bem que o diga, ela fala mesmo é de uma obsessão, narcisismo até, poderíamos dizer... Até no contexto político ela já entrou, lá nos meados do curto governo golpista do Temer.
Alguém arrisca dizer, que tem político, tem gente negando as aparências e disfarçando as evidências. Chegamos no ponto alto do refrão.
"Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego"
Essa seria uma frase da música, mas a essa hora, ela já perdeu pra mim todo o significado.
O que você pode achar que um bilionário faz em sua longa e grandiosa vida?
Negar, eu diria.
Quando um bilionário se vê em uma enrascada, a primeira palavra que vem por uma nota de um assessor é a negação. É praxe, é concreta.
Assistir uma peça que o título é BYLIONÁRIOZ faz a mente da gente dá um Google, vê o que tá acontecendo em 140 caracteres do Twitter. Ah preciso atualizar esse TT, para X, o Elon quer assim...
Precisamos atualizar esses bilionários que de uma noite pro dia ficam ainda mais BYLIONÁRIOZ.
Juro que esse texto era para falar de um peça que assisti às 19h10 minutos de um domingo de maio no Engenho Teatral, ali ao lado do metrô do Carrão.
Mas como a gente pode falar de bilionários sem saber o que eles comem, como eles vivem, o que falam, o que curtem. A gente fala sobre o que não é palpável, o que não é comestível, o que não é visto a olho nu, a Marte, a lua, aos céus que caem sobre nós, mas nunca sobre eles, os BYLIONÁRIOZ.
Eu só queria 140 caracteres, porque a conta nunca fecha quando R$ 1.412 é o salário que se converter pro dólar, dá saldo negativo de chorar sem ter lágrimas.
Atualizando, o TT, vulgo X, inflacionou e agora eu posso gerar 280 caracteres. Agora eu posso reclamar mais um bucadinho. Se eu fosse um BYLIONÁRIOZ, poderia xingar muitos caracteres, 4 mil.
A peça é BYLIONÁRIAZ , tem vários aparatos de tela e som, luz e figurinos. Fala de fome e de matemática. Fala do que tem e do que não tem, eu diria.
Falar de BYLIONÁRIOZ, precisa falar de poder... Nunca é sobre grama, é sobre isso que vem depois da grana encher os bolsos.
"Eu te quero mais que tudo" ...
fala outra parte da música que se exagera em perturbar os ouvidos em casas de karaoke.
Se eu fosse um BYLIONÁRIOZ eu não iria assistir essa peça, os bancos do teatro não são confortáveis. Eles cantam coisas de comunistas e falam palavras estranhas. Mas a playlist é boa, tem músicas que eu garanto que os bilions iriam amar ouvir, tomando um belo... sei lá, tenho até medo de falar o que eles gostam de beber.
Desculpa mais uma vez, gostaria de ter escrito algo sobre a peça, mas não me contive, agora é tarde porque o texto já está acabando e eu não sei o que mais falar.
Talvez dê para usar umas linhas e falar sobre o figurino, os atores, eu já falei que eles cantam, né? Mas pode ficar despreocupados, não é um musical.
Eu acho que ainda não inventaram musical comunista, esquerdista, eles são sempre primaveris, lindos e floridos como a primavera em Paris.
Eu pensei que não teria algo mais fantástico para se fazer depois de comer um pastel num domingo á noite. Estava errado. Uma peça abre portas no cérebro, abre abas, abre assombros nos olhos, faz rir e comumente, chorar.
Eu não sei se choro, ou só sofro. A peça fala sobre esse dilema. Eu não sei ainda o que fui fazer lá, que não sendo um BYLIONÁRIOZ , não tenho o dinheiro o bastante para ajudar a comprar a cabiação que pela segunda vez roubaram do Engenho.
“Chega de mentiras
De negar o meu desejo”
De destruir a Terra é ir, sem Terra, para Marte. Acho que no fundo no fundo, esse é o verdadeiro desejo de todo BYLIONÁRIOZ. Vejo num futuro próximo, cinco naves indo para o espaço, com a direção apontada para um planeta comunista, olha que ironia! Vermelho!!
Eu talvez vá, porque também sou BYLIONÁRIOZ, escrevi 4 mil caracteres.
Bárbaro Xavier é ator, apresentador e jornalista.
Comments